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Mensagem do Prior no tempo da Quaresma e do Covid19

20 Fevereiro 2020

Este ano a Quaresma traz-nos uma experiência nova que, pela sua gravidade, requer de todos nós, uma grande atenção. A pandemia provocada pelo Coronavírus obriga-nos a tomar decisões que devem ser assumidas por todos. Estamos diante de acontecimentos que desafiam a responsabilidade de cada um.

A natureza da doença, o seu enquadramento, as explicações relativas à sintomatologia, propagação e terâpeutica competem às autoridades médicas e sanitárias. Foi justamente este pedido que o Senhor Patriarca nos fez na mensagem de 11 de Março, acrescentando, «como cidadãos, devemos atender a todas as indicações das autoridades sanitárias e civis», «como crentes, não deixaremos de viver o actual momento com fé no Deus da vida, que nunca abandona ninguém, sobretudo nas ocasiões mais difíceis.»

Com efeito, enquanto comunidade de fé, não nos basta o cumprimento de normas sanitárias, pois sentimos a exigência de viver estes acontecimentos dentro do horizonte novo que a fé revela e que muda o modo como estamos perante tudo na vida.

Em primeiro lugar, a fé faz-nos ser realistas e impede qualquer simplismo. Olhamos para a realidade tentando ver a totalidade dos factores envolvidos e com a razão iluminada pela fé procuramos perceber o que se passa sem esquecer nenhum aspecto: a doença, os serviços de saúde e os médicos, enfermeiros e pessoal de saúde; as famílias dos doentes, os idosos e os que estão em quarentena; mas também o medo; os efeitos na vida económica do país e de todo o mundo; os empregos; a responsabilidade dos governantes e das autoridades.

O que sobressai, porém, a um olhar realista é que a soma de todos os factores não explica tudo. Temos de ir ao âmago da questão, onde, por um lado vemos a fragilidade e a precariedade humana e, por outro, vemos a abertura da razão à realidade que está para lá de nós e dá sentido a tudo o que vivemos. A relação mais profunda com a realidade não assegura, por si só, respostas a todas as questões, mas coloca-nos diante da vida, do sentido da vida e de Deus, com as preguntas mais importantes e necessárias de que não podemos fugir: quem sou eu? qual o sentido da vida? Como fazer para realizar a minha vida? Estas perguntas fazem-nos ter um olhar religioso para a vida, pois abrem-nos a porta que nos leva a ir a fundo. Mas é o encontro com Jesus Cristo e escutar a Sua Palavra com disponibilidade de coração para a acolher que nos começam a dar algumas respostas. Se queremos mesmo perceber como estar diante desta crise, não podemos deixar de olhar para a cruz de Cristo e procurar nesse mistério de amor total o sentido último de tudo.

Em segundo lugar, a fé, porque nos leva a Jesus, faz-nos enfrentar o que está a acontecer com a lógica do amor que quer o bem de todos. É nessa linha que devemos cumprir com cautela as recomendações justas que nos são dadas para evitarmos a propagação da doença. Todo o cuidado para evitar os contágios não pode ser um acto egoísta a pensar em si, mas um gesto de amor por todos. Contudo, a nossa caridade não se resume ao cuidado.

A paróquia, enquanto comunidade de fiéis, é chamada à caridade, procurando cada um estar mais do que nunca junto dos que precisam. Diante do medo e do sofrimento, só uma presença amiga pode assegurar a serenidade e dar sentido à vida, e nós queremos ser essa presença, mesmo que para isso tenhamos de usar sobretudo os meios tecnológicos e evitar o contacto físico.

Se a presença dos irmãos é importante, o olhar realista e a lógica do amor pedem a presença de Deus, o Pai que a todos ama, e o Único a dar ao que acontece um sentido completo.

Eis o terceiro ponto, aquele que é ainda mais específico da fé: viver tudo o que está a acontecer na oração.

Rezar como acto de confiança em Deus, implica duas coisas:

Pedir: o rápido restabelecimento dos doentes e que poupe os que estão de quarentena; que os moribundos e os que morrem sejam acolhidos por Deus numa plenitude que traga alívio a todo o sofrimento; que os que tratam dos doentes sintam-se acompanhados e não lhes falte a força; que os governantes tenham em vista o bem comum com sabedoria, que a sociedade inteira viva estes acontecimentos com a percepção de estarmos todos inter-ligados e de precisarmos de Deus.

Descobrir os apelos de Deus. O Senhor chama-nos agora para dar passos concretos. Antes de mais, cada um de nós é convidado a reforçar a fé, testemunhar a caridade e confirmar a esperança. Procuremos, acima de tudo, como já dissemos, que este tempo seja um tempo de diálogo com Deus. Dizia há dias o padre João Seabra que se muitas coisas que tínhamos para fazer são desmarcadas, ninguém pode desmarcar a nossa amizade com Cristo a não ser a nossa liberdade. E nós não queremos desmarcar, mas aprofundar. Os tempos e as circunstâncias reclamam isso mesmo.

Na nossa paróquia de Santa Joana, Princesa, em Lisboa, se bem que muitas actividades paroquiais (catequese, formações, centro social e até mesmo, por agora, as Missas públicas), tenham sido canceladas ou interrompidas, queremos que haja ainda mais vida de fé. Deus desafia-nos a ser criativos. Serão as células desta comunidade, ou seja, as famílias, a manter a vida comunitária. Aproveitemos bem o tempo. Com efeito, se por causa do perigo de contágio, que é bem real, as escolas fecham, muitos são convidados a trabalhar de casa e outros têm mesmo de ficar em casa sem trabalhar, não se perca este tempo em futilidades. Sem relativizar os problemas inerentes a uma tal situação, não é bom ficar horas na internet ou diante da televisão a ver notícias sobre o Coronavírus.

Que nas famílias, os seus membros se inter-ajudem para cada um viver bem estes dias, que conversem muito e rezem juntos, por exemplo o terço e, nas sextas feiras, a Via Sacra; aprofundem os temas da fé; estejam atentos aos que sofrem e presentes onde houver gente que precisa de ajuda. Pode-se e deve-se, ainda, aproveitar para ler um livro ou estudar alguma questão que, em tempos normais, por haver sempre tanto que fazer, não se conseguia. Os estudantes estudem nestes dias; mesmo sem aulas, aprofundem o conhecimento.

A nossa Igreja estará aberta normalmente durante o dia, mas não haverá, como já disse, nestes próximos dias Missas públicas. Todos os dias os padres da nossa paróquia celebrarão Missa privadamente às 12:00 e às 19:00. Assim, convidamos todos a unirem-se a partir de suas casas à nossa oração fazendo nesse momento, ou noutro, uma comunhão espiritual.

Para isso, proponho que cada um ou cada família organize um momento de oração em casa (alguns conseguirão seguir a Missa pela Televisão ou por internet, outros poderão ler e meditar nas leituras do dia); com um acto de contrição desejoso de conversão e recordando que Jesus, que está à Direita do Pai, se faz presente no Altar e está presente nos Sacrários, cada um sinta fome de comungar fisicamente e comungue espiritualmente dizendo:

Oh meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Altar quando o sacerdote celebra a Missa e que permaneceis nos sacrário de todas as Igrejas católicas.
Amo-vos sobre todas as coisas e desejo de todo o coração comungar o Vosso Corpo.
Mas, como não posso comungar agora de maneira sacramental, vinde a mim espiritualmente. Não permitais que eu me separe de vós.
Jesus, doce Jesus, mantende-me junto de Vós e vinde depressa em meu auxílio

Deste modo, vivamos este jejum como uma preparação para a vida em abundância que Jesus nos veio trazer e que na Páscoa celebraremos.

Um coração aflito reza, um coração que reza descobre a presença de Deus, a presença de Deus incute confiança, a confiança em Deus faz-nos seguir Jesus Cristo, seguir Jesus faz-nos ter uma vida nova e, assim, amar e servir todos como Ele nos mandou.

Nossa Senhora, Mãe de Jesus, que esteve com Ele junto à Cruz, está, de certeza, junto à cruz de cada um dos seus filhos e não nos abandona. Ela intercede por nós todos, mas, recordemos que em Fátima ela também veio pedir uma mais autêntica conversão e a oração quotidiana do terço.

Maria, Mãe da esperança, pelo Vosso Imaculado Coração, rogai por nós, para que esta provação passe e aproveitemos o momento em ordem à plenitude de vida.

Pe. Duarte da Cunha

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