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Festa do Baptismo do Senhor - Homilia do Prior

09 Janeiro 2022

"Estamos a celebrar um facto histórico: a vinda de Jesus ao Jordão para ser baptizado por João Baptista. Este acontecimento mostra bem porque é que Deus Se fez homem: Ele quis assumir a nossa humanidade e identificar-Se connosco, vir à nossa procura no meio do pecado onde nós andávamos. Ele faz com que João o baptize apesar de não precisar de ser purificado porque quis vir a nós, à nossa miséria, para aí iniciar e oferecer-nos uma nova história.

O baptismo de Jesus percebe-se quando o associamos à Sua morte. Jesus identificou-Se com os pecadores assumindo as consequências do pecado mesmo não tendo pecado. Ele foi baptizado por João para que as águas onde os pecados eram lavados fossem purificadas e Ele morreu por nós para vencer a morte que o pecado tinha introduzido na vida humana.

Assim, percebemos o que dirá São Paulo quando disse que somos baptizados na morte de Jesus para com Ele ressurgirmos para uma vida nova. Sim, esse é o baptismo no fogo e no Espírito de que falava João Baptista e, por isso, da ressurreição de Jesus brota, para quem é baptizado na sua morte, uma nova história. Do nosso baptismo brota uma nova história.

O baptismo gera um homem novo que, se educado, aprende a ser ele mesmo. A Igreja é nossa mãe porque nos gera, porque nos educa, porque nos alimenta, porque nos dá a vida nova que é a vida de Deus. Em que se percebe este homem novo?

O homem novo é um homem livre – antes de mais do pecado mas, também, dos medos e das vergonhas, livre da opinião que os outros têm de si, porque lhe interessa a opinião que Deus tem de si. Mesmo preso ou no Coliseu diante dos leões não se sente preso e mostra a sua liberdade na piedade que tem pelos que o mandam matar… livre de todos, é livre também de si mesmo, a ponto de conseguir fazer um exame de consciência e distinguir o que fez mal do que fez bem. Livre a ponto de conseguir pedir perdão. Livre a ponto de se querer converter e de se esforçar por mudar de vida.

O homem novo é capaz de ver para além do visível. Ter a luz de Deus é uma grande graça. A luz da nossa fé, que é representada pela vela do nosso baptismo que se acende no Círio pascal, permite ver o que está para além da vista, mas, em si, ver o que Deus nos mostra não é sempre fácil, introduz uma responsabilidade crítica. Uma obrigação de avaliar tudo e reter o bom. Não é um olhar que rejeita tudo nem aceita tudo. Discerne! Porque quer o bem e porque procura continuamente a Verdade. A Verdade é o horizonte que tem diante de si quem tem a luz de Deus pode esperar encontrar o Rosto de Deus. Num mundo de aparência e de mentira, o baptizado luta pela Verdade, certo que esta liberta e que desse modo vive mais intensamente. Este discernimento, graças à luz de Deus, penetra a realidade, penetra o nosso próprio coração, não é só habilidade, é acolhimento do que nos é ensinado, é obediência. É ver porque outros te dizem olha, esses outros irmãos na fé são a luz da vela do baptismo que se acendeu no nosso baptismo! Por isso Jesus dirá dos discípulos: vós sois a luz do mundo!

O homem novo é, além disso, capaz de amar. Não só de sentir afecto por quem é amável, mas de se sacrificar por outro, de dar a vida por outro, de amar até o que não o ama, o inimigo. É capaz, por isso, de perdoar no coração aquele que lhe fez mal e de não querer por nada vingar-se! Ele começa por se dar conta de ser amado e por fazer a experiência de ser perdoado por Deus. Não admira que Jesus tenha dito que para o seguir precisamos de pegar na cruz! A sua cruz é testemunho do Seu amor por nós. Nela Ele deu a Sua vida por nós! Sigo-lo, pegando a cruz, é amar como Ele nos amou. O baptizado que vive plenamente a vida nova não foge da cruz, agarra a cruz. Não se fecha no egoísmo, ele descobre a plenitude de vida que há nela.

O homem novo é chamado a ser magnanime. É realista e saber ver o que está mal, não se limita a descrever as angústias suas ou do mundo mas dá-se conta de tudo o que é Belo, Bom, Justo. Vê como tudo isso existe e deseja o que é grande e verdadeiro para si e para os outros. Há uma insatisfação com o pequeno e mesquinho que torna o baptizado generoso, criativo, original, eficaz…

O homem novo é, ainda e muito, humilde, mendicante. Ele reconhece a sua fragilidade não só física e psicológica, mas até moral e espiritual, contudo sabe-se acompanhado por Deus e por aqueles que Deus coloca no seu caminho. Ele é humilde mas tem a quem pedir ajuda.

Uma pessoa diferente das que o mundo de hoje exalta, porque não precisa de se pôr em bicos de pé ou de aparecer muito, porque sabe que é amado e espera em Deus! Não precisa de ter tudo nas suas mãos porque sabe que Deus, que é o Senhor da vida e da morte, cuida dele. Como dizia São Paulo: “Quer eu viva quer eu morra sou do Senhor!” O humilde, porque se deixa amar, faz a experiência de uma vida em abundância, mesmo que esta não tenha a forma da facilidade mundana. Mais do que a facilidade a ele interessa o sentido e esse, porque Jesus lhe dá o Seu Espírito no Baptismo, não falta. Longe de se sentir abandonado sente-se abraçado. Não precisa de estar sempre a pensar em si! Tem quem cuide dele.

O Homem novo, por fim, é comunitário. Não se realiza sozinho nem está só preocupado consigo. Não se sente bem com o egoísmo, antes envergonha-se de algum pensamente deste tipo que o possa tentar. Atento aos outros diz mais vezes nós do que eu! Pelo baptismo torna-se membro do Corpo de Cristo, pedra viva do Templo de Deus neste mundo, membro da família de Deus! Este seu ser com os outros é a sua identidade.

 Em síntese, o homem novo é santo - pertence a Deus. Deus é Santo e fonte de toda a santidade, os que nascem de novo no baptismo, nascem desta vida santa. O baptizado é filho de Deus e templo do Espírito Santo!

Oh se percebêssemos o que isto quer dizer! É demasiado, sim! mas não é estranho à nossa experiência. É vida já neste mundo, não preciso esperar o que há - de vir. A nossa fé é um acontecimento real hoje! Não só nos prepara para depois da morte contemplar-mos a Deus face a face, como já nos faz viver tudo – desde o interior do nosso coração ao trabalho e aos afectos – em comunhão com Deus, com a Verdade de Deus. O baptizado está unido a Jesus e vive da vida de Jesus, por isso, canta e reza: Oh Doce Jesus!

Sim, sermos baptizados! Que grande graça, que humanidade a nossa! Que desafio Deus nos confia. Que beleza de vida! "

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